quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Só para introduzir o Universo Menteniano...

Paulo Menten chegou a Londrina, cerca de trinta anos atrás, trazendo consigo uma completa oficina de gravura, experiência de décadas na área das artes gráficas, um nome respeitado e conhecido no meio e uma exuberante energia criativa. Veio de São Paulo, passando uma temporada, no final da década de 1970, por Cornélio Procópio, até, finalmente, chegar a Londrina, onde se estabeleceu. Veio junto dele, parte integrante e indissociável desse universo, a companheira de sua vida, Dolores Branco, a outra polaridade – às vezes yin, às vezes yang, intermitentemente ou simultaneamente positiva e negativa, dependendo de inúmeros fatores. Em 2009, Paulo, já com mais de oitenta anos e a saúde abalada, teve que se mudar de Londrina para São Paulo, onde poderia ter uma melhor qualidade de vida com o apoio do filho.
Em Londrina Paulo realizou o mais significativo de sua produção e deixou sua marca – e a marca de seu universo à parte – fortemente impressa no imaginário da cidade. A arte de Paulo é uma coisa tão londrinense quanto o relojão do Edifício América, o Centro Comercial, os Museus Histórico e de Arte, antigas estações de trem e ônibus, o cine Ouro Verde e a UEL – e tão universal quanto pode ser a expressão única que distingue um grande artista. Afinal, trinta anos é bastante tempo para uma cidade que ainda não chegou aos oitenta – mas pode passar dos mil – e bastante tempo para um homem que já passou um pouco disso e não terá mais cem anos de vida.
Também esta arte única e original está à mercê do movimento irresistível do progresso a qualquer preço que temos visto passar por cima da história e da memória como um rolo compressor. Quanta coisa preciosa já não terá se perdido por pura negligência e falta de cuidado no decorrer da aventura humana sobre a Terra? O acervo de Paulo Menten é constituído de materiais e memórias frágeis e delicadas (mesmo quando se trata de máquinas pesando várias centenas de quilos e que não se fabricam mais), que remetem a um passado recente e ainda não totalmente acabado, quando a humanidade usava as mãos para fazer coisas.
A arte, assim como a ciência e a religião, é um processo humano por excelência, e um dos principais papéis do artista no grande palco da cultura é exatamente representar uma visão do mundo e tornar-se ponto de referência enquanto autor da representação de uma visão de mundo. O artista é coadjuvante de Deus no trabalho da criação: um demiurgo, criador de seu próprio mundo imperfeito e que não é reflexo de nenhuma ordem divina estabelecida desde o começo do cosmos, mas uma tradução humana e personalíssima, completamente original e única (ainda que completamente referenciada no real e no natural). Um mundo que tem leis próprias e que só pode ser entendido de acordo essas leis, ou, lido a partir da mesma linguagem pela qual foi grafado/gravado.
Esta é uma primeira abordagem do Mundo de Paulo – ou, como o chama Dolores, do Universo Menteniano, que faz parte de um universo maior – o da gravura. Este, por sua vez, participa de um universo maior ainda: o da Arte. Esta é a incomensurável paisagem onde habita e por onde viaja o artista em busca da melhor forma, da linguagem mais precisa com que expressar sua visão. Por aí o criador é mais o descobridor que corajosa e, quase sempre, imprudentemente, viajando de pé na proa de sua caravela espera ver, depois da próxima onda, a linha do horizonte do Novo Continente – ou então o abismo na beira do mundo conhecido, guardado pela serpente do progresso desenfreado, da história acelerada, da memória deixada às traças no fundo do baú que será esmagado entre os entulhos da demolição, sempre pronta a desmantelar a nave do descobridor com os golpes de sua cauda.

Este blog está nascendo como parte do projeto Acervo Paulo Menten: organização e catalogação, aprovado pelo PROMIC, ou Programa Municipal de Incentivo a Cultura da Prefeitura Municipal de Londrina, nº. 10-239, e vai divulgar os trabalhos do projeto e o próprio Universo Menteniano, o Mundo de Paulo: projetos do criador, diários do descobridor, esboços, anotações e apontamentos do artista, leituras e reflexões do pensador, críticas, poesias, reflexões e, principalmente, imagens.

São responsáveis pelo projeto: proponente, coordenação geral, curadoria, administração: Dolores Branco. Produção, catalogação e digitalização das imagens; co-administração e redação, Eduardo Tadeu Arrebola de Souza. Técnicos em arquivologia, André Silva Rodrigues e Rosemarilde Polaci de Souza, respectivamente estudantes de história e de arquivologia da Universidade Estadual de Londrina. Assessoria técnica e orientação acadêmica, Museu Histórico Padre Carlos Weiss, dirigido pela Professora Doutora Angelita Marques Visalli, técnico arquivologista Amauri Ramos da Silva. Assessor de Artes Visuais, Professor Doutor Cláudio Garcia, do departamento de Artes Visuais da UEL. Apoio técnico, Centro de Documentação e Pesquisa Histórica do Departamento de História, Centro de Letras e Ciências Humanas da UEL, dirigido pelo Professor Doutor Marco Antonio Neves Soares. Agradecimentos a Regina e Alexio Setti, José Luiz Néia Martini e Josette Branco Martini, Rogério Ivano, Wanda de Moraes, Solange Batigliana, Malu Fontenele, o pessoal do PROMIC... Perdão alguém que tenha sido esquecido - qualquer coisa a gente edita o texto para incluir...

Feito o discurso de apresentação e dada a ficha técnica, passemos ao Universo Menteniano...